Fator crítico do negócio

O financiamento das empresas é uma das dificuldades que as oficinas de pneus têm sentido de forma muito vincada nos últimos tempos. Perante esta realidade, é importante conhecer algumas soluções disponíveis para a “compra do dinheiro”

Quando falamos em financiamento, normalmente associamo-lo a investimento. Nos dias que correm, salvo raras exceções, os empresários do ramo dos pneus não estão recetivos a investimentos. Porém, numa altura em que muitas empresas do ramo enfrentam situações de tesouraria complicadas devido ao decréscimo das vendas e à margem cada vez mais reduzida, o financiamento do negócio “operacional” constitui uma necessidade absoluta para a continuidade da laboração. Perante esta situação, muitas oficinas de pneus são confrontadas com a situação de terem como fator crítico do seu negócio a “gestão do dinheiro”, quando as suas competências técnicas do negócio não são exatamente essas.
Este artigo não tem a pretensão de sugerir as opções do gestor oficinal numa direção ou noutra, mas sim de informar relativamente a soluções que podem melhorar as condições de operacionalidade das empresas. Quando pretendemos um financiamento (empréstimo), devemos procurar resposta para duas questões:

– Qual a finalidade do empréstimo?
– Como pretendemos efetuar o reembolso?

Relativamente à primeira questão, a finalidade do empréstimo, o seu custo pode variar muito tendo em conta o “produto financeiro” contratado. Por exemplo, se pretendermos comprar uma viatura ou um equipamento, a Banca dispõe de produtos menos onerosos do que os tradicionais financiamentos “puros”. Eis alguns exemplos: leasing; ALD; renting; mútuo… Se a finalidade do empréstimo for apoiar a tesouraria da empresa, por motivos de cash flow negativo pontual, em resultado do balanço entre os recebimentos e os pagamentos, então poderemos usar produtos financeiros como:

– Letras
– Desconto de cheques pré-datados
– Factoring
-Confirming

Estes produtos permitem ter um comprovativo de pagamento por parte do cliente para além das faturas emitidas, sendo, desta forma, possível reduzir o custo do crédito concedido Tal como dispersar o risco junto da Banca.
Sendo que o Factoring e o Confirming são produtos menos comuns do que os outros mencionados, apresentamos uma breve explicação sobre cada um deles:
Factoring: produto bancário que permite a antecipação de pagamento de faturas emitidas a clientes. (Exemplo: uma factura com prazo de pagamento a 90 dias, pode ser “paga” pelo banco a 30 dias).
Confirming: produto bancário que garante ao fornecedor o pagamento das suas faturas, permitindo esta situação a otimização da relação comercial com este.
Até agora, só tratámos da primeira questão, que foi a “Finalidade do Empréstimo”. Temos, então, de tratar a segunda , que é “ Como pretendemos reembolsar o empréstimo?” Se o objetivo for reembolsar o empréstimo em prestações mensais/trimestrais, ao longo de vários anos, com amortização de capital e juros, não deveremos contratar uma Conta Corrente Caucionada, uma vez que, seguramente, corremos sérios ricos de a “congelar”. Ou seja, a não existência de um Plano de Reembolso, levará a uma mais lenta amortização que, com toda a certeza, tornará este financiamento muito oneroso. Lembramos que numa Conta Corrente Caucionada, para além dos juros, existe ainda uma comissão de imobilização, que é paga sobre o capital disponível mas não utilizado.
Perante a situação económico-financeira que o nosso país atravessa, existem alguns programas específicos, com a intervenção do Estado no apoio às PME. Para além de terem características próprias no que diz respeito ao “Produto Financeiro”, os critérios de avaliação às empresas proponentes funcionam como “filtro”. A forma como a contabilidade espelha a realidade da empresa, através das suas peças contabilísticas, é preponderante para conseguir um financiamento com as melhores condições possíveis.
Esta tipologia de crédito permite alongar no tempo (ótica de investimento = MLPrazo) e reduzir custos de crédito, em virtude da “contra garantia” dada pelo Estado (Lisgarante; Norgarante), refletindo um spread mais baixo acordado entre o Estado e a Banca. O IAPMEI e a Banca aderente serão os locais apropriados para obter toda a informação relativa a este tipo de programas de apoio às PME (PME Invest, PME Crescimento, Portugal 2020, InnovFin.) com a descrição das condicionantes e das finalidades dos apoios em causa. Convém ter presente que os programas anteriormente mencionados se destinam a “Desenvolvimento de Negócio” e não a “Suporte à Tesouraria”.
Estando o mercado interno em retração contínua há vários anos, há duas formas de desenvolvimento de negócio, que são muito bem acolhidas por quem seleciona as empresas para os programas mencionados:

– Exportação
– Internacionalização

No caso concreto das oficinas de pneus, muitos dirão que as formas de desenvolvimento do negócio apontadas não são viáveis. Não será possível a exportação de serviços auto a todas as oficinas em Portugal, mas existirão muitas que estarão mais perto de grandes cidades espanholas do que portuguesas (não há fronteiras e a moeda é a mesma).
Quanto à internacionalização, será, certamente, um passo mais difícil de dar, mas se for dado em conjunto com outras empresas, em modo de parceria, a partilha do risco e do esforço do arranque será minimizado. Em alguns casos, poderá ser uma possibilidade.

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