“A Valorpneu continua a superar a recolha de pneus usados”, Climénia Silva

Há mais de duas décadas que a Valorpneu garante o fim de vida adequado dos pneus usados através do Sistema de Gestão de Pneus Usados (SGPU), seguindo sempre as linhas para o desenvolvimento de uma economia circular e da sustentabilidade do planeta. Em entrevista ao Anuário da Revista dos Pneus, Climénia Silva faz um balanço positivo do percurso realizado e assume o compromisso de manter a Valorpneu no topo da gestão de pneus em fim de vida a nível internacional

A Valorpneu é um agente de mudança no domínio dos pneus usados em Portugal. O panorama dos pneus abandonados nas matas ou junto a locais de distribuição que existia há 20 anos foi completamente ultrapassado e já está no esquecimento. No início da sua atividade a Valorpneu desenhou e implementou um modelo para o sistema integrado que associa uma rede de locais de recolha distribuídos ao longo do país para receber os pneus usados sem qualquer custo pelo depósito e uma logística organizada para o seu encaminhamento para destinos finais que procedem à sua recuperação quer como matéria-prima, quer como recurso energético.

A Valorpneu tem vindo a gerir o sistema de forma transparente, rigorosa e focalizada, inicialmente, mais em atingir os quantitativos de pneus a recolher e a tratar e numa segunda fase, depois de asseguradas as quantidades e as operações essenciais, na qualidade do serviço e na procura de inovação, tendo em vista não só o benefício do impacte ambiental gerado pela atividade, mas também a criação de valor.

Quantos pneus foram recolhidos pela Valorpneu durante estas duas décadas de atividade e qual foi o seu destino?

Mais de 160 milhões de pneus usados foram recolhidos e tratados ao longo destes anos.Em termos de peso corresponde a cerca de 1,8 milhões de toneladas de pneus. Em Portugal, desde o início da atividade da Valorpneu foram recauchutados quase 11 milhões de pneus, cerca de 330 mil toneladas. Para reciclagem foram encaminhadas 1 milhão de toneladas de pneus usados. Estes pneus são transformados nas suas componentes, nomeadamente na borracha, aço e têxtil. O têxtil tem tido como destino a valorização energética, o aço a reciclagem e o granulado e pó de borracha são produtos que têm inúmeras aplicações na indústria. Destacam-se os pavimentos desportivos e recreativos, o enchimento dos relvados sintéticos, a indústria de isolamentos e de artefactos de borracha e as misturas betuminosas com borracha para as vias rodoviárias e aeroportuárias. Cerca de 530 mil toneladas serviram como fonte energética, essencialmente utilizados como combustível alternativo nas cimenteiras do  nosso país.

Qual o valor atual do Ecovalor e quanto recebe a Valorpneu anualmente desta prestação?

Convém referir que o Ecovalor é uma prestação financeira devida à Valorpneu por quem coloca pneus no mercado, para que a Valorpneu os trate quando chegam ao fim de vida. O Ecovalor depende da categoria de pneus. A Valorpneu tem os pneus agrupados em 14 categorias distintas, desde pneus de veículos ligeiros de passageiros, comerciais, pesados, de engenharia civil, até pneus de menores dimensões, como os de bicicleta ou de karts. A Tabela de Eco-valores é publica e encontra-se disponível no site da Valorpneu. Como exemplo um pneu de veículo ligeiros tem um Ecovalor de 1,05 € e um pneu de pesados 7,44 €. Ao longo do período de atividade da Valorpneu recebemos em média 10 milhões de euros anualmente.

Como tem sido investido o valor do Ecovalor recebido pela Valorpneu?

O Ecovalor é investido na gestão do sistema, ou seja, nas operações de armazenagem e triagem dos pneus usados, no transporte para instalações de reciclagem e valorização e nas contrapartidas pagas a estas unidades. A Valorpneu tem também investido fortemente no sistema de informação que permite uma adequada articulação entre todos os intervenientes do sistema e igualmente em campanhas de sensibilização e educação, bem como em investigação e desenvolvimento como forma de garantir a prevenção da produção de pneus usados e soluções finais alternativas para os materiais resultantes da reciclagem dos pneus.

Quanto ao processo de valorização dos pneus em fim de vida, quantas empresas trabalham nesta área e qual tem sido a sua evolução (recauchutadores, reciclagem e valorização energética)?

Atualmente são aderentes à Valorpneu 20 recauchutadores, todos os que se encontram com atividade em Portugal. Existem duas unidades de reciclagem de pneus, a Genan, multinacional dinamarquesa com uma das suas fábricas em Ovar, e a Biogoma, com instalações em Tremês, Santarém. No que se refere à valorização energética, os pneus são utilizados como combustível nas cimenteiras da Cimpor, em Alhandra e Loulé, da Secil, em Outão e na Maceira, e na Teramb, na ilha Terceira dos Açores. Temos assistido a uma redução significativa no número de recauchutadores que em 2009 já chegaram a 34, situação que revela as dificuldades que são sentidas por estes operadores que continuam a sofrer a forte concorrência dos pneus novos de baixo custo e a falta de medidas de incentivo ao setor que promovam os pneus recauchutados no âmbito de uma economia mais circular e mais sustentável. Quanto aos recicladores, já foram três em Portugal, no entanto em termos de capacidade de reciclagem de pneus estamos atualmente no nosso máximo com as duas unidades em funcionamento, dado os investimentos efetuados por estes dois operadores nas suas unidades de produção. As unidades de valorização energética nas cimenteiras têm-se mantido mais ou menos estáveis.

A logística de recolha de pneus nos centros de recolha e entrega nos valorizadores da rede, gera uma enorme atividade a nível dos transportes. Nos 20 anos da Valorpneu, quantos fretes e quilómetros percorridos foram realizados?

Efetivamente existe uma grande atividade relacionada com o transporte no sistema da Valorpneu. Diariamente cerca de 26 camiões efetuam cargas de pneus usados, transportados dos centros de recolha para os recicladores e outros valorizadores. No período de atividade da Valorpneu foram realizadas um pouco acima de 123 mil cargas e percorridos 18 milhões de Km, o correspondente a cerca de 450 voltas à Terra.

Quantos Centros de Recolha existem atualmente?

Saiba a resposta a esta e a outras questões na edição impressa ou online do Anuário da Revista dos Pneus, aqui.