“A criação de valor deverá passar por serviços adaptados à nova realidade”, Aldo Machado, NEX Tyres

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A NEX Tyres manteve a “totalidade” dos seus recursos disponíveis para os clientes durante a crise provocada pela Covid-19, apesar dos condicionamentos existentes.  Com a rede comercial em casa e os escritórios vazios, apenas a estrutura logística permaneceu ativa e, mesmo assim, com diversos condicionalismos.

Como está a necessidade de isolamento social a impactar na atividade da NEX Tyres?
Para além do impacto interno, a redução de vendas é dramática nos segmentos que se destinam a não-profissionais. Se excluirmos as vendas realizadas nos segmentos agro-industrial e pesados, os pneus para veículos ligeiros e 2 rodas estão a níveis nunca vistos anteriormente.

Que meios utilizam para manter o contacto com os clientes?
Com exceção do contato presencial/físico prestado pela equipa comercial, todos os restantes meios estão a operar a 100% como o nosso B2B e call center.

Como estão a apoiar os vossos clientes neste momento difícil que o mercado está a viver?
A primeira base de apoio foca-se na manutenção da atividade a 100%, assim como assegurarmos que as condições financeiras da própria empresa garantem a continuidade da Nex como todos a conhecem. A partir desse pressuposto, estamos em condições de avaliar casuisticamente as eventuais necessidades que os nossos clientes possuam, mas sempre com razoabilidade e não colocando em causa a atividade futura.

Que boas práticas estão a ser implementadas pela NEX Tyres para conseguir manter a atividade em segurança?
Internamente reduzimos a presença de pessoas nos nossos serviços e, no caso logístico, ainda que seja imprescindível para a nossa atividade foram implementadas escalas de presença para reduzir o número de trabalhadores e, consequentemente, o risco de contágio. No acesso às instalações foram introduzidos critérios de restrição apertados e foram implementadas medidas de auto-proteção para os colaboradores que se encontram no ativo.

É possível contabilizar já os prejuízos causados pela Covid-19?
Neste momento calculamos os primeiros prejuízos, 2020 será um ano onde nunca conseguiremos recuperar os níveis previstos e, neste momento, a tarefa é minimizar o impacto económico dentro da estrutura financeira e garantir a continuidade da atividade, assim como assegurar a manutenção dos postos de trabalho.

Para quando antevê a retoma do setor? E de que forma?
Não antevemos propriamente uma “retoma”, mas sim um aumento paulatino da atividade. Não acreditamos que, de um dia para o outro, volte tudo à normalidade. Há muitas incertezas, o que provoca insegurança e pouca propensão à compra de bens que não sejam de primeira necessidade, pelo que sofreremos muito durante o ano. Analisamos com muita preocupação o setor turístico, aquele que foi o motor da recuperação económica e que durante este ano sofrerá severamente com esta pandemia, o que terá efeitos muito negativos no desemprego, no encerramento de muitas empresas, na paragem forçada de atividades conexas como rent-a-car e transportes turísticos… este é um cenário muito complexo e cuja recuperação será muito lenta e, infelizmente, levará alguns anos a retomar os níveis que verificávamos no início deste ano.

Na sua opinião, o que vai acontecer ao setor dos pneus em Portugal pós Covid-19?
Com uma recuperação lenta e com enormes debilidades a nível de tesouraria, a estrutura empresarial portuguesa vai sofrer um duro revés, embora as primeiras medidas de apoio por parte do Governo tenham ajudado a atenuar os primeiros efeitos negativos da crise (refira-se que podemos considerar insuficientes, mas são medidas de apoio imediato e efetivo com impacto na tesouraria das empresas – casos do layoff simplificado, moratórias nos créditos bancários e linhas de crédito dedicadas).  O nosso sector não passará de forma incólume a esta crise, pelo que contamos com muitas dificuldades financeiras provocadas pela quase interrupção de vendas vs stocks elevados, aumento do período médio de recebimentos, eventual “downgrade” do mercado com tendência para produto mais acessível, manutenção de reduzido nível de procura, possível deflação com a consequente desvalorização dos stocks, enfim… um cenário, para nós, ainda (bem) mais difícil do que a crise da dívida de há poucos anos!

Que mensagem deseja transmitir ao setor para o futuro?
A nossa história já nos demonstrou que há muito pouco que os portugueses não tenham capacidade para fazer. O nosso setor já deu provas de resiliência na crise de dívida soberana, adaptando-se às dificuldades. Essa mesma resiliência deverá agora ser redobrada, procurando dentro do possível reinventar o seu modelo de negócio ou até mesmo a sua estrutura, já que será difícil manter ativas estruturas que não conseguem ser auto-suficientes a nível económico. O mercado terá um menor poder de compra, pelo que a criação de valor deverá passar por estruturas e serviços adaptados a essa realidade que não deverá ser muito distinta da crise da década anterior. Todos sofreremos, mas a nossa capacidade de luta e adaptação serão, de novo, essenciais para ultrapassarmos esta crise e mantermo-nos neste mercado tão competitivo.