“Somos uma das fábricas mais eficientes do Grupo Continental”, Pedro Carreira, Continental Mabor

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Este ano, a fábrica de pneus da Continental em Lousado, está a comemorar o seu 30º aniversário. Em entrevista à Revista dos Pneus, Pedro Carreira, Presidente Conselho de Administração da, faz o balanço destas três décadas de atividade de continuados sucessos.

Até à data saíram das linhas de produção quase 350 milhões de pneus “Made in Lousado” e a empresa é a 5ª maior exportadora nacional.

A fábrica de produção de pneus da Continental em Portugal é uma história de sucesso. Em várias etapas, a fábrica foi ampliada em cerca de sete vezes em relação à sua área inicial, o número de postos de trabalho aumentou duas vezes e meia e um grande número de novas linhas de pneus tem vindo a ser introduzido. Atualmente a fábrica de Lousado é uma das unidades mais importantes da Continental no mundo dos pneus. Melhor do que as palavras, estes números falam por si: desde o seu arranque, foram vulcanizados cerca de 350 milhões de pneus para carros, 52.000 pneus para uso agrícola e cerca de 4.000 pneus para portos e minas.

Que balanço faz destas três décadas de atividade da fábrica Continental Mabor?
Nestas três décadas de atividade fazemos um balanço muito positivo, pois consideramos que na globalidade foram 30 anos de continuados sucessos. A par da produção de pneus com especificações cada vez mais exigentes, a fábrica de Lousado continua a ser uma das mais eficientes do Grupo. De realçar que nós começamos por produzir pneus de dimensões pequenas e atualmente estamos com um mix de produtos com processos mais exigentes e com mais elevado nível de complexidade. Naturalmente não podemos deixar de referir as recentes adições de novos produtos ao nosso portfólio e que motivou a instalação de uma nova unidade de produção na nossa fábrica. E se me permite referir, somos a 5ª maior exportadora nacional.

Quais os marcos mais importantes da história da Continental Mabor?
Felizmente nós temos muitos marcos históricos, mas se me pede para destacar alguns, apontaria para além do nosso arranque industrial que ocorreu em 2 de julho de 1990, o final do ano de 1994 em que concluímos o projeto de reestruturação; o ano de 2002 em que construímos o armazém de pneus um pouco afastado da nave industrial e que permitiu continuarmos com a expansão da unidade de pneus ligeiros; em 2005 arrancamos com um novo projeto para equipar a unidade industrial com o equipamento adequado para podermos produzir pneus para os SUV´s; em 2009 introduzimos em Lousado a tecnologia de pneus ContiSeal; em 2013 avançamos para a preparação da fábrica para a produção de pneus UHP – pneus de alta performance; em 2014, com a construção de um edifico  para armazenagem de pneus a cerca de 1 km de distância da unidade industrial foi possível continuarmos com mais projetos de expansão. Já em 2017 arrancamos com a produção de pneus agrícolas e a instalação de um setor de pesquisa e desenvolvimento para este segmento de pneus e que incluiu um centro de avaliação e testes. Ultimamente estamos concentrados na continuação do crescimento da unidade de pneus ligeiros, da unidade de pneus comerciais especiais que inclui para além dos pneus agrícolas, os pneus fora de estrada (portos, minas e movimentações de terras).

No início, que tipo de pneus eram fabricados na Continental Mabor?
Nos primeiros anos – 1990 e 1991 – ainda se produziram pneus da tecnologia General Tire e essencialmente marca Mabor que incluíam alguns pneus pesados, scooters e outros. De salientar que os primeiros pneus da marca Continental e as novas tecnologias foram introduzidos na fábrica de Lousado em meados de 1991. Mas estes dois primeiros anos em termos de produção, foram essencialmente para dar resposta às encomendas que já tinham sido colocados por alguns clientes e para a remoção a pouco e pouco dos equipamentos antigos com a passagem gradual para as novas tecnologias Continental de construção de pneus. O projeto inicial apontava para uma produção em finais de 1994 de cerca de 90% de pneus simples, de jantes 13” a 15” – três medidas de pneus de jante 15” destinavam-se à Ford/Volkswagen (Autoeuropa). Mas nos primeiros três anos mais de 20% da nossa produção foram ainda pneus de jantes de 10” e 12”.

Como evoluiu a produção de pneus na fábrica? Foram sempre aumentando o número de unidades produzidas?
Em 1990, produzimos um total de quase 500 mil pneus, em 2000, produzimos mais de 10 milhões de pneus e em 2019 produzimos mais de 18 milhões de pneus ligeiros e mais de 25 mil pneus agrícolas. De realçar que os  números de pneus ligeiros se referem ao tipo de pneus que produzimos naquelas ocasiões ou seja, o tipo de produtos que hoje temos em produção nada tem a ver com o portfólio das décadas de 1990 ou de 2000.  Por ocasião da crise do setor automóvel, em 2008 e 2009, registamos uma quebra nos números, mas a partir de 2010 continuamos com o crescimento no número de pneus produzidos. E naturalmente que os números de 2020 vão ser inferiores aos registados em 2019.

E atualmente que tipo de pneus são produzidos na Continental Mabor?
Atualmente estamos a produzir pneus para viaturas de passageiros – jantes 14” a 22”, para SUV’s, para viaturas comerciais ligeiras, pneus UHP e UUHP (alta performance) pneus ContiSeal e ContiSilent, bem como pneus agrícolas e para aplicações fora da estrada – portos, movimentações de terras e minas. Incluímos já no nosso portfolio de equipamento de origem importantes OEM´s, como a AMG, Porsche, Mercedes, Land Rover, Rolls Royce, Tesla – clientes de pneus ligeiros – e John Deere, Valtra e Liebherr – clientes de pneus CST –  só para referir alguns.

Em 2017 iniciaram a produção de pneus para tratores e máquinas de ceifar, e em 2019 a produção de pneus OTR (fora da estrada) para aplicações especiais em diversas máquinas portuárias e movimentações de terras. Porque decidiram apostar na diversificação de produto?
É o seguimento da nossa estratégia de continuar a crescer, diversificar a nossa linha de produtos, com cada vez mais produtos de valor acrescentado. Como já referi a par de novos pneus, temos também apostado nas áreas de desenvolvimento de novas tecnologias para a nossa indústria e cujas soluções estão a ser replicadas para outras unidades do Grupo.

O Grupo Continental produz nas suas fábricas várias dezenas de linhas brancas. Esta fábrica de Lousado também produz pneus de linha branca? Que marcas?
Sim. Dentro de uma estratégia delineada pela casa mãe também produzimos algumas marcas que consideramos “privadas” e se destinam a nichos de clientes, que têm volume expressivo para ser produzido de forma independente.

Nesta fábrica de Lousado é feita apenas produção, ou também existe I&D?
Na parte de pneus ligeiros não existe investigação, apenas industrialização de novos produtos. Na parte de pneus agrícolas, sim temos uma área de pesquisa e desenvolvimento local.

Qual a importância da fábrica Continental Mabor para o grupo Continental?
Nós consideramos ser importantes para o Grupo Continental, pois somos uma das fábricas mais eficientes do Grupo. Contudo o Grupo tem mais 22 fábricas deste setor espalhadas pelo mundo e temos de estar preparados não só para a concorrência externa, mas também a concorrência interna do Grupo.

Quantos pneus foram produzidos pela Continental Mabor no último ano e qual o volume de faturação alcançado?
Como já mencionado, produzimos mais de 18 milhões de pneus ligeiros e mais de 25 mil pneus agrícolas em 2019 e o nosso volume de faturação ascendeu a mais de 893 milhões de euros. Do volume total de vendas, 99%  foi para a exportação.

Dos pneus produzidos em 2019, qual a percentagem destinada a primeiro equipamento e ao mercado de reposição?
Em relação aos valores de 2019, 32% destinaram-se às linhas de montagem da indústria automóvel e os restantes 68% ao mercado de substituição.

Quais os principais mercados de exportação?
Alemanha 23%, EUA 16%, Espanha 10%, Reino Unido 7% e França 5%, são os primeiros de uma lista de 68 mercados de exportação.

O aumento constante dos preços das matérias primas tem afetado a rentabilidade da Continental Mabor?
Sim, qualquer variação nos preços das matérias-primas, afeta-nos de forma considerável. Nós trabalhamos com várias matérias-primas, por exemplo, borracha natural, que como todos sabemos está sujeita a grandes oscilações de preços nos mercados.

Os pneus Premium (altas prestações) têm tido uma procura crescente no mercado. A que se deve esta situação?
Cada vez mais os clientes estão conscientes da importância dos pneus que têm no seu carro. Se há uns anos, o perfil dos clientes se situava na questão do preço dos pneus, agora dão mais atenção à segurança, ao ruído, à resistência ao rolamento, ao conforto e à pegada ecológica, por exemplo.

De que forma a pandemia de Covid-19 tem condicionado a atividade da Continental Mabor?
Nós estivemos parados de março a abril, três semanas, e essa produção perdida não a vamos conseguir recuperar. Claro que implementamos todas as medidas propostas pela DGS e pela nossa casa-mãe, e estas medidas afetam todos os setores da economia, sejam da cadeia de distribuição, produção ou vendas.

O que mudou na atividade da Continental Mabor com a pandemia?
A proteção e saúde dos nossos colaboradores está em primeiro lugar. E por isso implementamos todas as medidas recomendadas. Durante um período de tempo não trabalhamos ao fim de semana, e os colaboradores destas equipas foram distribuídos pelos três turnos da semana. Todas as áreas da empresa tiveram de se adaptar e naturalmente a nossa Logística alterou bastante a  forma de trabalhar. Em Lousado, colocamos a limitação de lugares, por exemplo nas zonas de lazer: centros de comunicação, áreas de fumo…

As viagens por motivos de trabalho foram quase todas canceladas, e fazemos praticamente todas reuniões com o uso das novas tecnologias.  Interrompemos as ações de formação presencial. Enfim, passamos a evitar as relações de proximidade, para podermos continuar a manter a empresa a trabalhar dentro das contingências que são conhecidas.

Que boas práticas estão a ser implementadas pela Continental Mabor para conseguir manter a atividade em segurança?
Na área produtiva, implementamos o uso de máscara, colocação de dispensadores e desinfetantes para a higienização dos postos de trabalho, abrimos as portas etc.  Fizemos e continuamos a fazer campanhas sobre as boas práticas, uso de máscara, lavagem frequente das mãos, afastamento social etc. Colocamos diversos painéis informativos e mascotes, limitamos o número de participantes nas reuniões, em função da dimensão da sala – a maioria das reuniões locais estão a ser efetuadas por plataformas eletrónicas; o nosso restaurante tem as marcações dos lugares que podem ou não ser usados. Também as rotinas de limpeza e higienização receberam um incremento significativo. E entre muitas outras medidas, implementamos a colocação de separadores em alguns postos de trabalho.

Como tem conseguido motivar e dirigir os mais de 2.300 trabalhadores da fábrica Continental Mabor?
Nós oferecemos aos nossos colaboradores um pacote de benefícios e regalias muito atrativo. Mas mais do que isso, comunicamos de forma regular, temos newsletters que semanalmente são emitidas dando conhecimento aos colaboradores do que se está a passar na empresa, para além de muitas outras ferramentas que usamos. E, não menos importantes, são a política de reconhecimento que temos implementada ou o sistema de sugestões, para referir apenas alguns exemplos.  A realização de eventos como Festas de Aniversário da Empresa, Festa de Natal das crianças, Páscoa, almoços de reformados, visitas ao espaço produtivo para toda a família, entrega de lembranças, na nossa opinião, geram sentimentos de envolvimento e motivação. Infelizmente os eventos acima este ano não se realizaram, mas não deixam de ser práticas que são muito apreciadas por todos.

Quais são as regras principais para a fábrica funcionar de forma tão eficaz e rentável?
O fator diferenciador são as pessoas, o seu compromisso para com a empresa e a vivência no dia a dia dos valores.  Nós costumamos dizer que o trabalho de equipa faz toda a diferença. E isto leva-nos a um outro fator que é a formação profissional. Ao longo dos anos todos os colaboradores tiveram e têm oportunidade de continuar a sua qualificação através da formação em diversas temáticas.  Ainda dentro do que atrás referimos, nós divulgamos e partilhamos os sucessos e o facto de termos tido muitos desafios e projetos e comunicarmos o seu ponto da situação, envolvemos toda a equipa e por isso temos aquele espírito e forma de estar que costumamos chamar de “a la Lousado”.

Como caracteriza a vossa engenharia de produção e os vossos produtos?
Considero excelentes e ao nível do que melhor se faz no mundo. Nós temos uma expressão  de que muito nos orgulhamos “Engineered in Germany – Portuguese Quality”.

Que objetivos e metas defende, em geral, e qual o patamar que pretende alcançar?
No momento atual que vivemos é difícil avançar com objetivos ou previsões. O amanhã é uma grande incógnita pelo que preferimos não adiantar mais nada.

 Quais os grandes desenvolvimentos que estão a acontecer na produção de pneus, nomeadamente a nível de novas matérias primas e compostos?
Entre vários outros, podemos referir o projeto da utilização da planta Dente de Leão (Taraxagum) e o Cokoon que está relacionado com as telas.

Que novos modelos de negócio podem surgir no mercado dos pneus?
Todos aqueles que a imagem e o engenho o permitir. Até aqui vendiam-se pneus, mas cada vez mais nos encaminhamos para fornecer também serviços, as designadas soluções integradas. Ou seja, não vendemos só o produto. O Grupo Continental tem diversas áreas de atuação e negócios e por isso passamos a oferecer cada vez mais soluções.

Qual a previsão que faz para 2020, no que diz respeito a vendas e novos investimentos na Continental Mabor? Considera que vai ser um ano positivo para a empresa, apesar da pandemia?
Como estamos num período de calamidade e não sabemos como vamos estar daqui a alguns dias, não podemos avançar previsões para 2020.  Mas como já dissemos, o que perdemos não vamos recuperar, pelo que 2020 ficará aquém dos resultados dos últimos anos. Naturalmente, registamos uma contenção nos investimentos em curso, e alguns outros que estão em discussão podemos não reunir as condições adequadas de infraestruturas para os levar a cabo.

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