Um dia com… Vincent Lopes, piloto de testes de pneus da Goodyear

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Viajar pelo mundo inteiro, conduzindo todo o tipo de automóveis, desde os das gamas mais altas aos mais compactos e nas mais variadas superfícies, como neve, gelo ou o asfalto perfeito de uma estrada recém-construída.

Imagine o simples odor a gasolina a fazer subir a adrenalina. Agora, que lhe pagavam para mostrar as suas capacidades ao volante. Serão estes os principais ingredientes de um emprego de sonho? Porventura.

No entanto, como explica Vincent Lopes, piloto de testes de pneus da Goodyear, “é necessária uma grande disciplina, próxima da obsessão, para alcançar uma carreira de sucesso neste mundo”. Nascido na Bélgica, Vincent Lopes, de 37 anos, trabalha, desde janeiro de 2005, no Centro de Inovação da Goodyear no Luxemburgo.

“Pensava que todos os pilotos de testes da Goodyear desempenhavam a sua função nos EUA, mas descobri que existia um Centro de Inovação no Luxemburgo, com mais de 900 engenheiros e técnicos”, refere. “O mundo automóvel corre-me nas veias desde que me recordo. Sempre desfrutei da condução de competição, especialmente em rali”, diz.

“Porém, não só me apaixona a emoção das corridas como, também, sempre me fascinou a vertente técnica, pelo que decidi formar-me como engenheiro no meu percurso escolar e na universidade. Iniciei a minha carreira como engenheiro de desenvolvimento num fabricante industrial antes de chegar à Goodyear”, revela.

Longas viagens

Em apenas um ano, Vincent Lopes chega a acumular mais de 20.000 km com os diferentes testes de performance, juntamente com alguns dos seus colegas do departamento de banda de rolamento, que conduziram mais de 130.000 km.

Vincent Lopes é um dos mais de 270 pilotos, engenheiros e técnicos, do Departamento de Avaliação de Pneus do Centro de Inovação da Goodyear, que trabalham dia e noite para colocar à prova os pneus em qualquer circunstância que possa ocorrer em qualquer estrada.

“As pessoas pensam que os pilotos de testes conduzem automóveis topo de gama de elevada potência nos locais mais atrativos do mundo. Sim, é verdade que temos de fazê-lo de vez em quando, mas esta é uma pequena parte do nosso trabalho. É necessária uma disciplina extrema e permanente, que só se adquire após um longo tempo de aprendizagem”, explica.

“Este trabalho começa com ‘testes objetivos’, que são registados e analisados por computador. Prosseguimos com métodos muito exaustivos, que vamos assimilando também graças à ajuda dos colegas mais experientes, já que muitos deles estão na empresa há 20 anos ou mais”, dá conta Vincent Lopes.

“Só quando se acumula a experiência técnica suficiente nos testes objetivos é que podemos passar aos testes subjetivos, utilizando a experiência e o conhecimento adquirido para avaliar a performance dos pneus nas diferentes condições que estes possam ter de enfrentar”, afirma.

“Mesmo que se seja um condutor magnífico, com extraordinárias capacidades ao volante, são necessários vários anos mais até que se torne num grande piloto de testes de pneus. É necessário ser-se muito disciplinado consigo mesmo. Para que os diferentes testes sejam válidos, é fundamental que tudo o resto esteja exatamente nas mesmas condições. Isto faz com que se apodere de nós uma estranha obsessão por assegurar que tudo esteja correto”, explica.

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Composto para o gelo

Vincent Lopes passa a maior parte do ano em busca do inverno em todas as partes do mundo. “Movemo-nos por todo o planeta à procura de neve e gelo. No verão passado, estivemos na Nova Zelândia, onde vamos todos os verões para encontrar condições invernais adequadas. Na Nova Zelândia, por exemplo, começa em agosto, o que reduz o tempo de desenvolvimento dos novos pneus. De regresso à Europa, realizamos muitos testes na Finlândia e na Suécia. Despendemos muito tempo em testes na Suíça”, explica.

“Os testes de inverno são muito complicados. O velho provérbio dos esquimós acerca da neve está totalmente certo: têm muitas palavras diferentes para a neve, dado que esta forma-se de maneira diferente, dependendo da localização e dos fatores meteorológicos. É preciso ser-se um condutor experimentado para reconhecer como atuam os diferentes tipos de pneus”, diz o piloto.

E acrescenta: “Esta é a parte do meu trabalho de que mais desfruto, mas, por vezes, é bastante stressante. Passamos três semanas no escuro, sem ver o sol, durante metade do inverno na Escandinávia. Custa muito a habituação ao frio extremo”.

Mais: “Quando estávamos na Nova Zelândia, costumávamos trabalhar durante a noite para encontrar as melhores condições e estarmos, assim, sincronizados com os nossos colegas na Europa. Por vezes, é colocada à prova a nossa vida pessoal. Estarmos longe da nossa companheira durante longas temporadas é duro. E imagino que isso seja ainda mais complicado para os colegas que têm crianças”.

Mas é certo que também existem momentos mais glamorosos no trabalho. Por exemplo, Vincent Lopes recorda com carinho o encontro levado a cabo, em Sevilha, pela Goodyear, para apresentar o pneu Eagle F1 Asymmetric 2, que juntou jornalistas da área automóvel e gente do setor de toda a Europa, com os automóveis mais elegantes do mundo. “Conduzir automóveis de gama alta no maravilhoso Circuito de Monteblanco foi um momento realmente incrível”, refere.

Testes no Mediterrâneo

Mas claro que exista mais do que apenas conduzir em gelo e neve. E entre os circuitos da Goodyear mais agradáveis para realizar testes, está o de Mireval, em Languedoc-Rosellón, França.  Originalmente, foi desenhado pelo piloto francês de Fórmula 1 Jean-Pierre Beltoise como um circuito de corridas, mas a Goodyear transformou a instalação num campo de testes para pneus.

O clima favorável do Mediterrâneo permite realizar testes durante todo o ano, contando com um circuito de 3,3 km de alta velocidade e com um circuito de 1,7 km para testes em piso molhado. O circuito dispõe de instalações específicas para efetuar travagens, provocar o aquaplaning, melhorar o nível de ruído e muitos outros testes específicos necessários para que se obtenha um entendimento completo da performance de um pneu. Adicionalmente, em Mireval, a Goodyear realiza testes específicos sobre pneus, que o tornam num dos circuitos de testes mais importantes do mundo.

“Muitos dos meus amigos e familiares perguntam-me, frequentemente, o que faço exatamente no meu trabalho. Por vezes, acho frustrante que as pessoas subestimem o papel de um pneu na estrada. Por exemplo, testo um pneu que, em travagem, pode imobilizar-se 18 metros antes de qualquer outro pneu em chuva. Realizamos muito trabalho na ‘sombra’, que as pessoas que não pertencem a esta indústria não reconhecem”, explica Vincent Lopes.

De facto, o Departamento de Avaliação de Produto testa mais de 50 características. O que inclui os testes obrigatórias, que são requisitos legais, juntamente com outros testes específicos, mais duros para um piloto de testes, como o aquaplaning em curva e em reta em estrada, percorrendo repetidas voltas num círculo repleto de água, comportamento em piso molhado, em que os pilotos dão voltas à pista a toda a velocidade, além dos mais exigentes testes de comportamento.

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Cada dia é um dia

Devido a ampla variedade de atividades que realiza, é difícil para Vincent Lopes descrever “um dia normal”: “O nosso dia começa com a revisão do horário de trabalho e a sua conjugação com as condições climatéricas e da estrada”, explica.

“Está a chover? A pista está seca ou molhada? Qual é a temperatura exterior? Todos estes fatores afetam os tipos de testes que podemos levar a cabo nesse dia. Também é importante ter em conta que a performance dos pneus pode ser afetada caso não disponham da pressão correta. É importante que estejam devidamente insuflados a todo o momento, para conseguir tirar dos mesmos o melhor rendimento”.

E como é que esta análise permanente afeta Vincent Lopes quando conduz para casa ao final do dia? “Gosto de descontrair quando estou na estrada. Sou capaz de desligar e deixar de pensar em cada pequeno detalhe do percurso. Algo que gosto de fazer é pôr a tocar a minha música, algo que, obviamente, não posso fazer no trabalho”.