“A ETRMA vai assegurar que a nossa voz seja ouvida”, Adam McCarthy, ETRMA

07 - A ETRMA vai assegurar

Em ano de eleições europeias, é fulcral fazer levar a voz da indústria dos pneus ao debate político na sede da União Europeia (UE) e a Associação Europeia de Fabricantes de Pneus (ETRMA) quer garantir que tal acontece já no segundo semestre deste ano. Estivemos à conversa com o secretário-geral, Adam McCarthy, que nos contou um pouco da história desta associação e das principais preocupações do setor

Em 1959, as associações de fabricantes de pneus dos cinco estados-membros fundadores da então Comunidade Europeia fizeram nascer o BLIC (Bureau de Liaison des Industries du Caoutchouc). A partir de 1994, a indústria começou a organizar a recolha de pneus em fim de vida, promovendo a Responsabilidade Alargada do Produtor.

Doze anos mais tarde, é lançada oficialmente a Associação Europeia de Fabricantes de Pneus (ETRMA), com a participação direta das empresas de pneus e das associações nacionais. “A estrutura e a identidade modernizadas proporcionam à indústria os meios para enfrentar os crescentes desafios institucionais e industriais com que se depara a nível europeu e mundial, antecipando simultaneamente uma maior pressão regulamentar e do mercado”, explica o nosso entrevistado, que esclarece que em 2009 “a indústria europeia de pneus tornou-se a primeira no mundo a ser regulamentada no que respeita ao desempenho em termos de resistência ao rolamento, aderência em pavimento molhado e ruído exterior. Os consumidores são informados sobre estes tópicos através do rótulo do pneu, que a União Europeia (UE) foi a primeira a implementar a nível mundial”, nota, orgulhoso.

Defender os interesses dos fabricantes de pneus
Mais tarde, em 2015, a ETRMA tornou-se um dos membros fundadores do Conselho Europeu de Competência e em 2016 lançou a TyreAWARE, uma campanha pan-europeia de sensibilização para o armazenamento e manutenção otimizados dos pneus. Entre 2007 e 2017, a indústria reduziu em 20% as emissões de CO2 da produção de pneus, ao mesmo tempo que diminuiu em 61% o consumo de solventes e em 46% o consumo de água. Segundo Adam McCarthy, a Associação Europeia de Fabricantes de Pneus criou a primeira Plataforma Europeia de Pneus e Desgaste Rodoviário inclusiva e intersetorial em 2018, com o objetivo de promover a gestão adequada de substâncias perigosas no local de trabalho, quer no mercado da UE, quer na exportação.

Atualmente com 26 membros, a Associação Europeia de Fabricantes de Pneus (ETRMA) integra empresas de pneus e associações nacionais de pneus e borracha, “que se esforçam por melhorar a indústria, transmitindo informações sobre a política e dando formação em áreas como a economia, a saúde e a segurança, a proteção ambiental e os transportes”, diz-nos o secretário-geral, que considera fulcral o contributo da associação para a definição das políticas europeias que defendam os interesses dos fabricantes de pneus.

Políticas europeias têm impacto na indústria
Neste momento, a ETRMA está “a analisar a forma como a Europa pode continuar a desenvolver-se e a lutar pela sustentabilidade, mantendo a sua competitividade num contexto global. A nossa situação geopolítica atual cria vários desafios e estamos a trabalhar para sensibilizar os legisladores para as consequências”, afirma, ressalvando que a guerra na Ucrânia “continua a representar um desafio para a indústria”, sendo o aumento dos custos da eletricidade e das matérias-primas “a principal consequência”.

Por outro lado, salienta, os rebeldes que bloqueiam o transporte marítimo no Mar Vermelho também geram estrangulamentos adicionais. Hoje, os pneus continuam a ser mais caros de produzir e de comprar do que eram antes da invasão, provocando um atraso no mercado. Ao reduzir a importação de matérias-primas de outros países e ao produzir o máximo possível a nível local, “a indústria torna-se menos sensível a fatores externos. Ao mesmo tempo, o quadro regulamentar para o fabrico de pneus está a tornar-se cada vez mais rigoroso”, alerta. A seu ver, foram várias as políticas europeias que tiveram impacto na indústria nos últimos anos, “impulsionadas pelo Pacto Verde e a respetiva prioridade à segurança, sustentabilidade, digitalização e economia circular”, de maneira que é “crucial acompanhar a transformação esperada com uma reflexão adequada sobre a dimensão industrial”.

Adam McCarthy destaca as soluções e contribuições da ETRMA para o debate político, com iniciativas concretas em resposta aos desafios que os pneus e os produtos de borracha enfrentam ao longo da sua vida útil: “A inclusão dos pneus no regulamento relativo à conceção ecológica dos produtos sustentáveis (ESPR) reforçará o compromisso de longa data da indústria de tornar os seus produtos mais sustentáveis e de contribuir para os objetivos da economia circular da UE. No entanto, a ETRMA procura obter garantias de que todos os pneus, quer sejam equipamento de origem ou de substituição, serão abrangidos pelo ESPR para evitar sobreposições com outros regulamentos atualmente em discussão (como o regulamento relativo aos veículos em fim de vida)”.

Com a norma Euro 7 a alargar às emissões dos pneus a luta contra as partículas, os fabricantes têm-se visto obrigados a fazer deste dossier “uma prioridade”, sendo esta a primeira vez que a UE estabelece um quadro para limitar a abrasão dos pneus. Segundo Adam McCarthy, “o regulamento assegurará o alinhamento com os esforços do Fórum Mundial para a Harmonização das Regulamentações aplicáveis a Veículos (WP.29) da UNECE para desenvolver regras internacionais relativas aos métodos de ensaio e limites para o exercício de avaliação dos pneus, a fim de recolher dados sobre a abrasão de pneus de diversas dimensões, padrões e marcas. Até 2026, os reguladores da UE decidirão sobre os limites de abrasão dos pneus C1 com base na avaliação do mercado”.

Ações recentes e preocupações futura
Como parte da Automotive Skills Alliance (ASA), o ETRMA está agora a colaborar em vários projetos da UE e, “para responder à transição digital e ecológica em curso, juntamente com uma estratégia de sustentabilidade na indústria química, o projeto Chemskills irá identificar e desenvolver competências ecológicas e digitais, conceber e melhorar a qualidade dos currículos e programas de formação e formar uma cooperação sustentável entre setores”, conta Adam McCarthy. Desde abril, o projeto «Competências digitais e ecológicas para o futuro do ecossistema da mobilidade» (TRIREME) “centra-se no ecossistema mobilidade-transporte-automóvel para facilitar a sua transição para um futuro mais ecológico e digital, através do desenvolvimento de uma estratégia abrangente e sustentável de competências e formação que responda às necessidades atuais e futuras da mão de obra”. Também em abril, a ETRMA lançou o Manifesto para o mandato político da UE de 2024-2029, “convidando os decisores políticos europeus a juntarem-se a nós na definição de uma agenda para uma Europa competitiva que cumpra a transição digital e ecológica, especialmente no que diz respeito aos dados e à economia circular”, refere o secretário-geral.

Sobre os desafios futuros, McCarthy menciona o Regulamento Europeu sobre Desflorestação (EUDR), que entrará em vigor a partir de 30 de dezembro de 2024, que visa impedir o acesso ao mercado da UE de mercadorias e produtos (derivados) que tenham causado desflorestação (após dezembro de 2020) e cuja produção não respeite a legislação nacional do país de produção. Nesse sentido, a ETRMA está a trabalhar com a Comissão Europeia para clarificar algumas das preocupações específicas da indústria dos pneus e da borracha, de modo a garantir que os requisitos deste regulamento possam ser cumpridos. Além disso, a associação está também a colaborar com outros Fornecedores de Serviços Independentes (FSI), “para apelar a uma ação rápida na adoção de uma proposta legislativa específica para o setor, no que diz respeito ao acesso aos dados dos veículos, o que contribuiria para uma concorrência saudável e mais oportunidades para o desenvolvimento de produtos e serviços de alta tecnologia”.

Leia a entrevista completa na edição impressa do Anuário da Revista dos Pneus, aqui.